quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Reflexão -> Frango de Natal

Era dezembro. Nevava e o frio era por demais intenso. O bom homem chegou em casa, comeu a comida simples e foi-se deitar. Como sempre, orou antes de dormir:

Senhor Deus, obrigado pelo dia de hoje, pelo alimento abundante….

E disse a Ele tudo o que diariamente dizia. Porém, naquela noite, antes do boa noite aos amigos do céu, arriscou um pedido. Aproximava-se o natal, e ele sonhava, tal como Francisco de Assis, estar com o Salvador ao vivo naqueles dias; se possível, tocá-lo, falar e passar um tempo a sós com ele. E foi isso que, corajosamente, pediu naquela noite. Sim, por que não, pensou. Então esqueceu tudo e dormiu.

Finalmente chega a véspera do natal. Toma banho, compra um frango, tempera-o, põe-no para assar [...] E tinha também as velas, as nozes e o arroz branco. Sim, disse, olhando a mesa rota e mambembe, está tudo bem. E sentou-se para esperar o convidado especial, pois tinha certeza que Ele viria (não havia dito o próprio Cristo que quem pede recebe?). Vou fechar os olhos só um pouquinho, pensou, e recostou a cabeça na cadeira de balanço. Logo dormiu. De repente, assustado, acordou e arrumou a roupa, pois deu-se conta que o outro poderia bater à porta e ele não ouvir. Olhou o relógio 20 horas. Está quase na hora, Ele já vem, animou-se.

Toc, toc. Alguém batia. Seu coração pulou de alegria. Então era verdade Jesus realmente atendia o pedido de seus irmãos! Ajeitou rapidamente os cabelos e abriu a porta surpresa! Era um mendigo. Ah, que pena, pensou. Sim, perguntou. E o homem mais pobre que ele pediu algo para comer, pois tinha muita fome. Espere um pouco, respondeu. Olhou o frango dourado à mesa e rapidamente arrancou uma coxa e a deu ao pedinte. Jesus nem vai notar, pois vou virar o frango para baixo e assim escondo a perna que falta.

Tranqüilizou-se e sentou-se novamente para esperar a visita. Toc, toc. Nova batida. Correu abrir a porta. Mas, não era Jesus e sim outro pedinte. Mesma história, mesma pena do pobre homem e lá se vai a outra coxa do frango. Jesus não há de reclamar de o frango não ter as duas coxas, refletiu.

Colocou um pouco de arroz nos dois buracos, sentou-se novamente, agora já um pouco triste, e fechou os olhos. Nova batida. Era outro pedinte. E lá vai um pedaço de peito de frango para o estômago de mais um faminto, pois, afinal, Jesus disse ‘Estive com fome e me deste de comer’, lembra.

De repente, outra batida. E assim foi, a noite inteira batida na porta, carne saindo, pedinte chegando, carne saindo, até nada mais restar, a não ser a farofa que caíra na mesa. Bem, Jesus, pensou, demorastes pra vir e foi isso o que sobrou. E foi catando a louça para guardar e ir dormir, quando ouve alguém bater. Não tenho mais nada, gritou. Toc, toc, insistia o novo visitante. Vá dormir, é tarde; já disse que nada mais tenho para dar, repetiu. Toc, toc. Mas, credo, o que será que querem tanto comigo? E foi ter com o novo visitante.

Abriu. E emudeceu… Afastou-se trêmulo, com as pernas moles e o rosto cor-de-neve. Era Jesus. Aquele sorriso no rosto, a doçura no olhar, as chagas nas mãos sim, não havia dúvidas, era o Mestre amado. Senhor, falou, caindo de joelhos e chorando de dor, por que demoraste? Tudo o que havia tive que dar. [...] Perdoe-me, Senhor Jesus….

O Mestre então entra na humilde casa, toca seu queixo e pede para que se ponha em pé. E diz:

Estou muito contente em vir à tua casa. E o pobre homem responde:

Ah, Jesus, preparei uma ceia para te receber, mas vieram tantos mendigos pedir comida e acabou indo tudo para eles. E eu que queria tanto passar um tempo contigo, como outros santos de Deus passaram. O que é que vais pensar de mim agora? E pôs-se a chorar novamente, as mãos encobrindo o rosto.

Jesus, tomando-o nos braços, apertou-o suavemente contra si e disse-lhe:

Mas eu já estive contigo várias vezes esta noite e comi fartamente. [..] O bom homem levanta a cabeça, fita Jesus e pergunta:

Mas, como? Eu estive atento a noite toda e nunca te vi entrar. E se entraste enquanto cochilei, como comeste sem fazer barulho?

Jesus sorri e responde:

O que querias era estar comigo na noite de natal, não era?

Pois bem, todo aquele que recebe o menor dos meus irmãos é a mim que recebe. Na verdade, não eram mendigos que vinham bater à porta, mas eu, disfarçado. Porque eu queria saber se me havias convidado porque realmente me amavas ou se era por um capricho teu. Como vi que teu amor era verdadeiro, eis-me aqui contigo. Pronto, senta-te e vamos conversar[...]

Amigo leitor, neste mês de dezembro preferi transcrever, a meu modo, um conto de Tolstoi. Penso que é um excelente pretexto para refletirmos sobre o verdadeiro sentido do natal. Tudo bem que exista o hábito de dar e receber presentes, que exista uma pessoa tão importante quanto Jesus na data reservada a Ele (o Papai Noel), mas os cristãos sabem que só Ele dá sentido ao 25 de dezembro. Arrisco mais: digo que só Ele dá sentido a todos os dias 25, e não só de dezembro, mas de janeiro, agosto, outubro, etc; como aos dias 24, 12, 3 ou 31. Porque todo dia é natal, uma vez que todo dia é dia de Jesus renascer em nossos corações. Feliz natal hoje, portanto. E amanhã, depois de amanhã…

Fonte: www.frasedodia.com.br (2003)

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