Publicação original Revista Vida e Saúde, por Diogo Cavalcanti
Assim como na história de Romeu e Julieta, eles se amavam, queriam
construir uma vida juntos, mas suas famílias eram contra. Enfrentando
tudo pelo sentimento que os um, os jovens Abdullah e Kubra decidiram
fugir para alguma outra cidade de seu país, a Turquia. Casaram-se em
1945, viveram felizes por 37 anos e decidiram adotar um sobrinho, pois
não tinham filhos. Naquele ano, porém, tiveram uma forte discussão,
depois da qual deixaram de conversar um com o outro por longos 27 anos.
O Romeu dessa história passou a viver num quarto do porão da casa.
Apesar de os dois se encontrarem várias vezes por dia, nem se
cumprimentavam. Familiares, então a favor do casamento, procuraram
uni-los com planos os mais criativos, mas em vão. A teimosia de ambos
parecia maior, apesar de todos perceberem que ainda havia um forte
sentimento entre eles. Continuaram brigados até que a morte chegou em
2009.
Kubra faleceu aos 82 anos, sem dizer adeus. Duas horas
depois, Abdullah teve o mesmo destino quando recebeu a notícia.
Tragédia moderna. Após o duplo funeral, o filho adotivo disse à imprensa
que os pais se gostavam, mas não queriam dar o braço a torcer, pedir
desculpas e revelar o sentimento que mantinham por baixo da casca de
insensibilidade.
Essa história é um caso extremo de uma
realidade comum. Grandes relações de amor e de amizade se rompem por
causa de discussões banais. Em vez de fazer-mos algo para restaurar as
coisas, resistimos ao amor e teimamos em esperar que o outro dê o
primeiro passo. Preferimos abrigar sentimentos de amargura que só nos
prejudicam e afloram em doenças físicas e psicológicas.
Apesar de guardarmos lembranças de um bom relacionamento familiar ou de
amizade, silenciamos bons sentimentos com a mordaça do orgulho. Uma vez
que se resista à reconciliação, com o passar do tempo, ela se torna cada
vez mais difícil de se alcançar, e a mágoa perdura por anos, ou até a
morte. Por isso, devemos praticar o sábio conselho do apóstolo Paulo:
“Não se ponha o Sol sobre a vossa ira” (Efésios 4:26).
Em
outras palavras, se tivermos um problema com alguém, precisamos
resolvê-lo antes que o Sol se ponha. Seja para pedir desculpas, ou
perdoar, devemos fazê-lo o quanto antes. O amor não pode ficar calado. O
silêncio do amor também afeta as relações diárias de forma muito sutil,
na negligência das pessoas amadas. Temos ao redor pessoas muito
importantes, mas elas nunca saberão disso se não o declararmos.
Filhos, pais, cônjuge, irmãos, amigos, colegas especiais de trabalho ou
de estudos dividem conosco bons e maus momentos. Conhecem nosso
temperamento, aplaudem nossas vitórias, reprovam nossos erros, e nos
amam ou gostam de nós mesmo assim.Essas pessoas merecem elogios
sinceros, cartões, flores, bombons, palavras de gratidão, abraços,
passeios, depoimentos na página da internet, presentes, enfim, pequenos
gestos que demonstrem o quanto são valiosas.
Talvez seja
isso o que elas mais estejam precisando. Não podemos esperar para
homenageá-los com uma coroa de flores a qual não poderão cheirar ou
agradecer. Devemos expressar nosso amor enquanto há tempo, pois amor
silencioso é amor que não pode ser sentido.
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